quarta-feira, 21 de abril de 2021

 

Um vento entra por mim,
trazendo um aperto na garganta, um frio no coração.
Meu olhar descampado se apoia no canto da árvore da felicidade
que se dobra sem vontade,
enquanto o lírio da paz se queda em oração,
e a buganvília lhe atira flores, numa amorosa ação.
Elas me ensinam a me dobrar para não quebrar.
Quando este vento chega, é preciso deixá-lo atravessar
para não carregar tudo que há.
Ceder é preciso,
não fazê-lo inimigo.
Ele vem por um divino motivo.

 

Saber que tudo passa nem sempre basta
para se valorizar o que não gasta
Dizer amo você não gasta
É bom até pra quem se acha
Agradecer por tudo não desgasta
Antes abre o coração pra receber mais graça
Entregar e confiar nada desperdiça
Portas são grandes apoiadas em dobradiça
Façamos, pois, consumo do que não perde o rumo
Mas sim nos dá aprumo neste mundo de resumos.

terça-feira, 13 de abril de 2021

 Que saudade de mim com você!

Uma eu que somente com você era.
Olhar de namoradeira na janela.
Que adorável aquela ela!

Uma eu que só com você assim se ria.
Pipa alto na ventania,
sem guia!

Uma eu que só se amava com você.
Enquanto esperava a coser
a eu que já era ser.

 

segunda-feira, 12 de abril de 2021

 

A moça de olhos arregalados sofre de excessos.
Por seus olhos entra tudo: 
o que deve e muito, muito mesmo, do que não deve entrar.
Porque ela não sabe os olhos fechar.
Eles têm vontade livre, vida independente, próprio pensar.
Ela veio sem boia de enchimento cessar.
Então, vive a transbordar.
Derrama-se pelos olhos, 
via de tudo que há.