As moedas não são menos valiosas por terem lados
diferentes. Pelo contrário, são consideradas válidas, autênticas, justamente se
tiverem todas as partes. A moeda é cara e é coroa. Dessa forma, ela é a soma de
todas as suas partes. E – claro! – a coroa é tão importante quanto a cara.
Embora, no “cara ou coroa”, se prefira escolher cara,
ambos os lados têm 50% de chance de ganhar. É curiosa essa preferência... É
como se o lado cara fosse o legal, o bacana, o bom; e o lado coroa fosse apenas
o que sobrou para o perdedor do “cara ou coroa”. Quem fica com o coroa é porque
perdeu a disputa. Já começo o jogo perdendo,
pensa.
Que raciocínio é esse? O que está em nosso
subconsciente, que privilegia lados, que rotula partes, que renega aspectos?
Para formar o todo, em sua magnífica complexidade, é
necessária a soma de todas as partes; todas igualmente importantes e valiosas. O
julgamento de valor é empobrecedor e injusto, desmerecendo a
nobreza de todos os lados, pois todos têm uma função, ou não existiriam.
Então, sou como moeda: tenho, pelo menos, dois lados. Sou frente, mas também sou verso; sou claro,
mas também sou escuro; sou esquerda, mas também sou direita; sou dentro, mas
também sou fora; sou o que está na luz e pode ser visto, mas também sou sombra,
o escondido.
Os lados são vários, muitos, diversos e todos me
compõem.
Dessa forma, meu avesso também sou eu, e posso
ter dificuldade em enxergá-lo, pois é meu lado sombra, meu lado esquerdo, meu
lado escuro.
E, nessa nomenclatura, não vai nenhum conceito de
certo e errado, bom e mau; sendo, apenas, uma oposição ao lado luz, direito e
claro: aquele lado que consigo enxergar.
Pois bem, meu próximo é um reflexo de mim. Por esse
motivo, entendo que, se algo me incomoda nesse meu semelhante, isso é meu
avesso, é a parte de mim que sinto dificuldade em ver. O que vejo no outro e me
incomoda é meu lado sombra.
Logo, se me irrita, está também em mim.
Portanto, aquele que me incomoda me cura de mim, se eu
souber enxergar, reconhecer, aceitar e agradecer.
Minha gratidão àqueles que me irritam!
Louco isso, né? Mas penso que é assim mesmo, pois, à
medida que me incomoda, mais curada vou ficando e menos incomodada também. Ou
seja, mais de mim estou enxergando e tratando e curando.
Entender isso é libertador! Liberta-me, inclusive, de
odiar e querer mudar o outro. Afinal, ele é meu médico, uma vez que me mostra o
que precisa ser tratado em mim.
E – o que é mais legal! –, quando me curo, algo assim acontece:
o outro também se cura; ou não me incomoda mais aquele seu aspecto; ou ele
passa a não fazer mais parte de minha vida, pois terminou sua função.
Conclusão: à medida que me curo, as pessoas à minha
volta também se curam.
Trato-me e me curo por todas as minhas relações!
Aho mitakuye oyasin!