quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

A que eu fui


Quem eu fui me visitou hoje, mas disse que não queria falar sobre nós.

Sabendo que não havia outro motivo para ela ter vindo, comecei por elogiar o quanto ela sempre foi corajosa, destemida, precursora: ser a primeira a ter curso superior, tanto pelo lado materno quanto paterno; ser a primeira a sair de casa solteira para morar sozinha; ser a primeira a ter um apartamento, um carro... é muito pioneirismo!

Então, relaxando, ela disse: “É preciso ser muito corajosa mesmo para enfrentar tudo pelo que passei.”

Mas, já com voz embargada, falou: “Pena que nem tudo deu certo.”

Abraçando-a carinhosamente e trazendo-a bem para junto de meu coração, falei baixinho que ela fez o melhor possível; era o que dava para ser feito, na época, com o que ela sabia.

E falei, ainda, “Graças ao que você foi, graças ao que você conseguiu, devido ao que você plantou, eu sou o que sou! Aceite, por favor, minha gratidão e minha reverência!”

E assim, apaziguada, ela ocupou seu lugar de honra em meu passado, tornando meu presente muito mais leve e meu futuro muito mais brilhante.