sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

O que precisa ser lembrado


Não vi tudo ainda
Nem vivi muito também
Sei pouco da vida
Preciso ir bem mais além

Que eu me lembre
Do quase nada visto
Na hora de falar
Sem pensar, de improviso

Que eu possa me lembrar
Do mínimo vivido
Antes de julgar
Um único lado despido

Que eu não esqueça
De meu saber pouco
Quando for pensar
A vida do outro

De tantas vidas precisei
Para chegar ao que sou
Muito andarei ainda
Para chegar aonde vou

Estar mais longe ou perto
O Divino buscado Destino
                                                         Depende de eu viver certo

O que me cobre


Sinto antes de saber
Sinto assim sem querer
Sinto mesmo sem ver
Sinto antes de acontecer
Sinto não sei o que

A pele inteira arrepia
A pele é que denuncia
Ela é que primeiro sente
O que sente toda gente
                                                             Neste mundo aparente

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Recado


A lua se recolhendo segredou,
Em tom firme, profundo:
“É chegado o tempo interior.”

Para quem gargalhada foi já,
Quem chorou um mundo,
Ou brincou com a vida de pegar.

Esta é a hora de olhar
Lá, bem lá para o fundo
Ver o tesouro que há.

“Vá! Não existe parede.
Pule! Você é rede.
Beba! Não espere pela sede.”

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Surpreendida, não surpresa


O vento me surpreendeu na varanda, beijos a inflar vestes minhas de ciranda.
 
Reconhecendo a sensação, meu corpo é distensão, num abandono de força, peso, emoção.

De onde vem esse conhecimento de voar tão alto com o vento; de enxergar longe com o céu; píncaros, montanhas, arranha-céus; de navegar com nuvens ao léu; de desnudar do prazer os véus?

Por que sei esse parceiro de voos infinitos, a quem confio o corpo que viaja como alma, espírito?

Como conheço esse cúmplice a dobrar a crista do mar só para me ver rir, ou não chorar, empina pipa no ar até eu me distrair, convida árvores pra dançar pra me alegrar, ou não partir.

Por ele ri, com ele vivi, sou ele, agora, de novo, aqui.

Vejo você, amigo vento, que já me trouxe muito alento.

Reconheço você, amor vento, e, por demorar tanto, lamento.

Agradeço a você, meu pai vento, amoroso e sempre atento.