quarta-feira, 30 de setembro de 2020




Acredito em gente,
apesar das mentes doentes.
Torço por um mundo diferente,
apesar de acordar contente.
Rezo para um Deus presente,
neste planeta emergente.
Com ele vamos emergir
até nada mais impedir
nosso espírito de fluir.
Nós e a Terra aqui
a construir o porvir

Sons cheiros sabores despertares


De manhãzinha, sou SONS.
_ do bem-te-vi, despertador amoroso, na varanda, no telhado, na antena, no gozo;
_ de Nina, a matar a saudade dormida sozinha em seu quarto;
_ das maritacas em voo escandaloso a sublinhar o café da manhã preguiçoso;
_ do sino da igreja São Francisco Xavier a sublimar o despertar, lembrando que é de bom tom saudar, agradecer ao CriadordeTudoqueHá;
_ do sinal da escola a acordar juvenis mentes e acolá, a minha também a aproveitar;
_ do Hino Nacional escolar, somente a tocar, de minha infância ouço cada voz a cantar solene, compenetrada, diante do diretor militar;
_ de Nina a correr voltas entre salas e varandas, a perseguir pássaros reais e imaginários, em mágica ciranda;
_ das crianças, na quadra do colégio, a incentivar parceiros e xingar adversários, num jogo de vida e morte diário;
_ da máquina de lavar roupa precisada de ser trocada – a coitada!

Com o andar do dia, sou CHEIROS.
_ do café a cutucar da casa todo canto que há;
_ do hidratante em cabelo e corpo, tocado pela brisa que vem do Porto;
_ da cozinha vizinha que entra pela casa antes da minha;
_ da “caquinha” de Nina em miados a me avisar que meus préstimos são precisados;
_ de chuva que cai em algum lugar visitado por minha alma milenar;
_ da dama da noite que se despede, na varanda, depois de sua única noite de festança;
_ do incenso de lavanda, em cada cômodo, a lavar miasmas de qualquer noturno incômodo;
_ do amaciante de roupas que “faz a maluca” brincando com a brisa vinda do Maciço da Tijuca;
_ do chá de capim cidreira colhido na jardineira.

À tarde, sou SABORES.
_ da comida do peixinho índigo a me mordiscar o dedo, saboroso riso;
_ da prosa gostosa com a varanda octogenária de dona Dália (a filha distante anda uma mala!);
_ da poesia do beija-flor, indiferente a Nina, no bouganville (é bom que ele não vacile!);
_ dos pimentões e tomates que deixam de enfeitar vasos, pedindo para serem mais bem usados;
_ da salsa que exige igual destino, pois este é seu plano divino;
_ da cozinha e seus provares, paladares, salivares;
_ do livro do momento, outros me espreitam de vários lugares do apartamento.

À noite, sou quietude.
_ do me pôr com o sol euforia;
_ da solidão a despedir o dia;
_ do olhar adormecer;
_ do me fechar em mim;
_ do acordar o ver;
_ do Ser sem fim;
_ do despertar com calma palma...
a alma.

Do que Sou chego mais perto.
E só então é que desperto.

Não mais


Não sou de grandes protestos
nem mais de veementes euforias
cheguei ao lugar honesto
de dosar revoltas e alegrias
Se não gosto, não participo
quem aprecie sempre há
e a mim não cabe
julgar ou condenar
Por mais que eu me ache legal
tudo estaria bem mal
se o mundo ideal
só a mim fosse igual
A diversidade me ensina:
há Alguém lá em cima
que faz melhor rima

segunda-feira, 21 de setembro de 2020


Sei agora o que sou: Não a imagem no espelho que minha vista distorce,
mas outra eu que dentro dela contorce.
Sei agora o que sou: Não o que os outros veem
reflexo da entorse,
mas outra eu que em si destorce.
Sei agora o que sou: Não o que pensava de mim
que a vaidade torce,
mas outra eu que esta retorce.
Sigo esperando expelir,
talvez na tosse,
esta outra eu
que de mim,
enfim,
tomará
posse.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Olhos d'água


O céu, hoje, deságua, como meus olhos d’água.
Há nuvens demais em mim a pesar ombros e afins.
Vivo a vazar assim desconhecidas dores carmins.
Já me derramo sem sentir, 
não percebo mais o fluir 
de minha alma a pressentir todo o ferir.
Quando cessarão com meu perdão 
as quedas de meu coração?
Até quando dar vazão 
ao que não sei o nome não

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Vento


Ontem ventou aqui, cada dobra levantada.
O vento ventou em mim, cada esquina foi dobrada.
Ventar está longe de ser ruim, dores, pudores, não sobrou nada

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Mãe Maria,

Durante minha vida inteira, rezei pedindo. Eram tantas as minhas necessidades! Sentia-me tão frágil! O mundo parecia prestes a me engolir!

Chegar até aqui – como a Senhora bem sabe, pois esteve comigo durante todo o caminho – exigiu de mim força, coragem e fé. Sobretudo fé, pois eu buscava algo que não conhecia, mas precisava acreditar que existia. Sem a crença numa realidade diferente, num futuro atraente, eu teria sucumbido certamente.

Encontrei já, Mãezinha, um viver mais seguro, um lugar no antes assustador mundo escuro. Já não suplico licença para respirar, como se meu pequeno corpo ocupasse indevidamente um lugar.

Reconheci, Amada, meu espaço e o direito a ele ocupar. Meu lugar é onde eu desejar ficar.

Conquistei, Mãe, o direito de ir, de estar, de existir. Cresci!

Ascendi, quando olhei para dentro e A vi. Não segurava apenas minha mão, como achei até então, mas estava em meu coração, havia em mim um Seu quinhão.

Agora, minha Mãe, apenas agradeço, quando rezo.

Ser cada vez mais grata é tudo que peço.

domingo, 6 de setembro de 2020

 

A maior luta que preciso lutar é comigo e meu julgar, meu condenar, meu castigar.

Se para dentro eu mergulhar e experimentar amorosamente me olhar, saberei me perdoar e não mais me boicotar e martirizar e chicotear.

Saberei, ainda, abandonar o me vitimizar. Tudo o que comigo há me foi atraído por meu comportar, por meu emanar.

Por mim, assim, vou 100% me responsabilizar!

Esse é o verdadeiro curar, 
a luta que vale lutar!

sexta-feira, 4 de setembro de 2020


A estrada que me leva ao paraíso, que me conduz ao finito, traz na seta o eu bendito direcionada para o por mim escondido: o
Ser a ser des-coberto por aquela que está mais perto e cobriu de ilusão meu coração, minha visão – eu, que sou minha prisão.