sábado, 30 de março de 2019

O que fiz de mim



Nossa história já não dói tanto em mim.
Vazar de meus olhos, escorrer por meu rosto, molhar minha alma,
já não é mais assim.


A boca calada,
de braços atados e pés amarrados.
Liberdade cerceada.

A luz abafada,
sem voz, sem destino que não seja desatino.
Liberdade cortada.

As costas marcadas
de pele vergastada, no peito a cava.
Eu, só chagas.

Por 50 anos, doeu muito aquele nosso fim.
Mas, meu povo negro, eis minha redenção,
enfim.

Nada do que nos fizeram
Calou nossa alma
serafim!


sábado, 23 de março de 2019

Levando as vistas a passerar


Neste dia, levei minhas vistas a passear
A sapeca brincou de desenhar
Em todo canto e lugar
Pra lá, pra cá
No mar
No ar

sexta-feira, 22 de março de 2019

Vejo vocês


Vejo vocês, meus ancestrais,
A me receberem sentados
Nesta casa, neste chão,
Por vocês assentados.

Peço licença para me aproximar.
Como criança desejo deitar
A cabeça neste colo milenar.

Aconchegada,
Ouço sobre a chegada
Nestas terras com quase nada.
Paragens
De longas e tristes viagens, Destinos para os quais
Não desejavam passagens

Mas foi preciso a cabeça erguer
Nada mais restava a fazer
E a origem sem esquecer
Toca de sobreviver
Para, mais tarde, poder
 – Quem sabe? –, vencer

Deste chão
Foi que se levantou
Toda uma nação
De um povo que se negou
A ser só sofredor.

Da realidade fez cantiga
Seus requebros dançando
Sem lamento nem fadiga
Camuflando cada santo

Assim foi que seu canto
Seduzindo toda pedra
Gerou esta nossa terra
Que não sabe de guerra
Preferindo a folgança
Realidade de criança
Que brinca de esperança

sábado, 16 de março de 2019

Bandeiras, lados


Nestes tempos, todos têm opiniões.
E, pior, exigem posições!
Não desejo ter bandeira, lado.
Quero o futuro do passado.

Almejo o barulho retumbante da paz
E todo o bem que desejar me faz.

Clamo pelo silêncio da esfuziante alegria,
Sorvendo o sossego que isso me traria;
Anseio pelo sono da eletrizante idolatria,
Saboreando a exultação da letargia.

Não desejo ter bandeira, lado.
Quero o futuro do passado.


                                   Também estive nesta folia, não faz tempo.
Panfletei, suei, me desnudei.
Acreditava no movimento!

Tudo tem seu momento...
De andamento.

É chegada minha hora
De tardar nesta demora.
Meu açodamento, agora,
É lento.

Esquecendo o mundo
Que encontrará o rumo
Dele mesmo oriundo
Lá, bem no fundo.

Não desejo ter bandeira, lado.
Quero o futuro do passado.