O
vento me surpreendeu na varanda, beijos a inflar vestes minhas de ciranda.
Reconhecendo
a sensação, meu corpo é distensão, num abandono de força, peso, emoção.
De
onde vem esse conhecimento de voar tão alto com o vento; de enxergar longe com
o céu; píncaros, montanhas, arranha-céus; de navegar com nuvens ao léu; de
desnudar do prazer os véus?
Por
que sei esse parceiro de voos infinitos, a quem confio o corpo que viaja como
alma, espírito?
Como
conheço esse cúmplice a dobrar a crista do mar só para me ver rir, ou não
chorar, empina pipa no ar até eu me distrair, convida árvores pra dançar pra me
alegrar, ou não partir.
Por
ele ri, com ele vivi, sou ele, agora, de novo, aqui.
Vejo
você, amigo vento, que já me trouxe muito alento.
Reconheço
você, amor vento, e, por demorar tanto, lamento.