terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Surpreendida, não surpresa


O vento me surpreendeu na varanda, beijos a inflar vestes minhas de ciranda.
 
Reconhecendo a sensação, meu corpo é distensão, num abandono de força, peso, emoção.

De onde vem esse conhecimento de voar tão alto com o vento; de enxergar longe com o céu; píncaros, montanhas, arranha-céus; de navegar com nuvens ao léu; de desnudar do prazer os véus?

Por que sei esse parceiro de voos infinitos, a quem confio o corpo que viaja como alma, espírito?

Como conheço esse cúmplice a dobrar a crista do mar só para me ver rir, ou não chorar, empina pipa no ar até eu me distrair, convida árvores pra dançar pra me alegrar, ou não partir.

Por ele ri, com ele vivi, sou ele, agora, de novo, aqui.

Vejo você, amigo vento, que já me trouxe muito alento.

Reconheço você, amor vento, e, por demorar tanto, lamento.

Agradeço a você, meu pai vento, amoroso e sempre atento.