sábado, 22 de julho de 2017

Um não acabar mais de sair de casulos



Este texto foi escrito a quatro mãos: as minhas e as de Luiz Fernando Mesquita, meu amigo, meu médico e meu psicoterapeuta, com o qual tive o privilégio de conviver, enquanto esteve neste plano.

Um dia, há muitos anos, enviei estas questões para ele, e, para minha felicidade, ele as respondeu.

Que força move a lagarta a virar borboleta?
Nenhuma.
De que motivação ela precisa?
Nenhuma.
Sequer sabe no que dará o processo, e, mesmo assim, o faz? Será isso apenas de sua natureza?
Seguramente sim.
Haverá, talvez, um momento em que a lagarta sente que pode ir além, pois o que está já não basta?
Seguramente não.
E quando já é borboleta? Será que sabe? Finalmente é e não mais está? Como ela sabe que chegou onde deveria?
Ela é, sempre foi e, apesar de você não ver, continuará... incessante e eternamente.
Terá, talvez, passado a dor? A posição será cômoda finalmente? Parecer-se-á, ela, então, com algo acabado, pronto, finalizado?
As leis cósmicas se cumprem.
Como gostaria de saber tais respostas!
Sabendo a pergunta não precisa da resposta.
Sinto que estou ainda lagarta e preciso pôr mãos à obra para me transformar.
As leis se cumprem sempre.
Mas... quanto trabalho ainda é necessário!
O único movimento é do rio que corre e ao qual pertencemos.
Quanta preguiça!
Vezes há em que os rios descansam...
E para quê?
Para retomarem seu curso natural e 
    independente.
Qual o resultado?
Participar do grande esquema universal.
Haverá uma borboleta no final?
Borboletas não têm final. Nada tem fim ou final, só a finalidade passa por um fugaz final e recomeça, sempre!
Ou já cheguei até onde dava para chegar?
O esquema universal "sabe" e faz... quanto mais o conhecemos e aceitamos suas leis.
A posição não é confortável: dói, incomoda, desconserta.
Não há posição para o cosmo, apenas tudo segue o que precisa ser e nós ai...
Parece realmente o meio de um processo; um lugar de transição.
Perfeito.
Mas para onde?
Todo livro, todo filme tem seu começo. Saber um dos finais transitórios possíveis é desperdício e sem graça!
Não vejo as setas.
Enxergue com os olhos do coração e da intuição e elas se insurgem, e, talvez, você possa vê-las...
Não tenho os mapas.
Einstein também não os tinha. O microscópio também não tinha a Einstein!
Não sei quais são as etapas.
Nem Cristo as conhecia e até chegou a 
   duvidar do pai.
   Apenas dói, dói, dói...
Sorte a sua! Por muito tempo você poderia ter visto e não viu, poderia ter sentido e não sentiu. Agora sua dor a empurra para ficar atenta e viva e disponível e humilde e pronta para viver seja lá o que for que lhe apareça.