quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

 

Contemplo essa paisagem diariamente e várias vezes ao dia, há 16 anos. E meu queixo não se cansa de cair!

O surpreendente quadro apresenta (no que dou uma volta pelo apartamento ou um lavar de louça ou um rezar de terço ou um pique-pega com Nina ou um envio de Reiki) cores, formas e matizes em combinações simétricas, variadas e belas, diante de meu observar caleidoscópico.

Durante muito tempo, foi essa a tela: eu a me maravilhar com a sentinela cuja função mais singela é enfeitar minha janela. Aquela de fôrma compacta de face e corpo a dar forma.

Todavia, tudo mudou um dia! A culpada? Uma chuva fina e fria!

A cortina branca veio vindo lá das bandas da Barra, cobrindo cerrada a mata fechada da montanha fachada.

Diante de meu ver, o véu desvendou um ser feitos de partes! Custei a crer!

Eu via, mas a mente desvia o que eu via.

O que o manto me mostrava? Primeiro se perdeu em brumas cabeça/testa/olho/boca. E, assim, lá estava o rosto perfeitamente partido e... separado! A outra parte era o queixo num corte diagonal que pegava grande parte do perfil. Dessa forma, as metades eram quase proporcionais e distintas. Eu podia ver a cortina a despencar num vale ENTRE as duas partes da cabeça!

Como a entender que minha compreensão necessitava tempo, aquela imagem lá ficou a esperar poder entrar em meu vidrado olhar.

Mas acho que se cansou e seu caminho reencetou, cobrindo tudo que em sua frente encontrou.

 

Meus olhos nasceram com
dever
de ver.
E assim veem o que há
e, mais ainda, o que não
está
no ar
ou em qualquer lugar.
Uma visão do nada
de muito fabricada
se a realidade for fadada
a não ser de fada.
Veem antes de mim.
Chegam na frente do fim.