terça-feira, 15 de agosto de 2017

Semelhante a moedas




As moedas não são menos valiosas por terem lados diferentes. Pelo contrário, são consideradas válidas, autênticas, justamente se tiverem todas as partes. A moeda é cara e é coroa. Dessa forma, ela é a soma de todas as suas partes. E – claro! – a coroa é tão importante quanto a cara.

Embora, no “cara ou coroa”, se prefira escolher cara, ambos os lados têm 50% de chance de ganhar. É curiosa essa preferência... É como se o lado cara fosse o legal, o bacana, o bom; e o lado coroa fosse apenas o que sobrou para o perdedor do “cara ou coroa”. Quem fica com o coroa é porque perdeu a disputa. Já começo o jogo perdendo, pensa.

Que raciocínio é esse? O que está em nosso subconsciente, que privilegia lados, que rotula partes, que renega aspectos?

Para formar o todo, em sua magnífica complexidade, é necessária a soma de todas as partes; todas igualmente importantes e valiosas. O julgamento de valor é empobrecedor e injusto, desmerecendo a nobreza de todos os lados, pois todos têm uma função, ou não existiriam.

Então, sou como moeda: tenho, pelo menos, dois lados.  Sou frente, mas também sou verso; sou claro, mas também sou escuro; sou esquerda, mas também sou direita; sou dentro, mas também sou fora; sou o que está na luz e pode ser visto, mas também sou sombra, o escondido.

Os lados são vários, muitos, diversos e todos me compõem.

Dessa forma, meu avesso também sou eu, e posso ter dificuldade em enxergá-lo, pois é meu lado sombra, meu lado esquerdo, meu lado escuro.

E, nessa nomenclatura, não vai nenhum conceito de certo e errado, bom e mau; sendo, apenas, uma oposição ao lado luz, direito e claro: aquele lado que consigo enxergar.

Pois bem, meu próximo é um reflexo de mim. Por esse motivo, entendo que, se algo me incomoda nesse meu semelhante, isso é meu avesso, é a parte de mim que sinto dificuldade em ver. O que vejo no outro e me incomoda é meu lado sombra.

Logo, se me irrita, está também em mim.

Portanto, aquele que me incomoda me cura de mim, se eu souber enxergar, reconhecer, aceitar e agradecer.

 Minha gratidão àqueles que me irritam!

Louco isso, né? Mas penso que é assim mesmo, pois, à medida que me incomoda, mais curada vou ficando e menos incomodada também. Ou seja, mais de mim estou enxergando e tratando e curando.

Entender isso é libertador! Liberta-me, inclusive, de odiar e querer mudar o outro. Afinal, ele é meu médico, uma vez que me mostra o que precisa ser tratado em mim.

E – o que é mais legal! –, quando me curo, algo assim acontece: o outro também se cura; ou não me incomoda mais aquele seu aspecto; ou ele passa a não fazer mais parte de minha vida, pois terminou sua função.

Conclusão: à medida que me curo, as pessoas à minha volta também se curam.

Trato-me e me curo por todas as minhas relações!

Aho mitakuye oyasin!