quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Ancestrais


Meus ancestrais que são porção maior em:
- minha pele que chega primeiro aonde quer que eu vá; que não disfarça seu poder de brilhar e despertar estranheza ou paladar.
- meu cabelo a provocar e anunciar a auréola selvagem desde a leonina primeira imagem.
- meus olhos que não disfarçam a profundidade do muito que viu e a graça.
- meu nariz perfeito para haurir toda a grandeza que a vida oferece em cada pequeneza.
- meus lábios prontos a dar e receber generoso prazer e poder e querer próprios de um divino ser.
- meu desejo de sorver tudo e além, devolvendo o infinito amor que tem.
- minha força de alma antiga imemorial a testemunhar a vida imortal.
- minha altivez de quem sabe já ter sido rei, escravo, dono, neste universo sem trono.
- minha perseverança em continuar sendo meu próprio caminho e destino, apesar do mundo em desatino.
- minha bravura do tamanho de uma raça a serviço da construção da paz; que de mim ela parta.
- meu viver exuberante a festejar o maior presente que a vida dá, aqui estar.
Eu, hoje, os reverencio por terem me trazido até este momento. Reconheço todo o sofrimento.
Orgulho-me de ser cada um de vocês, desde o primeiro pé africano de cuja descendência me ufano.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Gente que é gente


Gente que é gente
Ama de repente
Sem formalidade
Ou identidade
Beija com vontade
Um beijo de verdade

Assim sem cerimônia
Nada de vergonha
Chega como em casa
E vai logo e abraça
Pega e amassa
Num aperto que esgarça

Gente assim me desconcerta
Comigo? Nem se aperta
Pra minha etiqueta
Faz careta
Dá pirueta
Chama pra sua lambreta

Gente assim
Me cura de mim

Defeito de olho


Nasci com defeito inconsertável
Primeiros a tentar foram os pais
Depois, os amigos, o mundo
Nada! O desvio é demais!
Aberração

Fui deixada, enfim, de mão
A esbarrar nas esquinas,
Trombando em espaços
Caindo das quinas
Desvão

Olhos que não ajudam não
Só veem o que ninguém vê
Atentos a mundo de nuvens,
Enxergam na sombra um ser
Sem chão

Não evitam tropeção,
Encantados que estão
Com o que veem no vão

Flores de dragão,
Vidas de areia,
Gente de vento
Nesse mundo tateia
Sem tento
Nem veia

Olho que espeta
Esse o do poeta

terça-feira, 12 de novembro de 2019

A cada ser que tocou minha vida,

Eu sinto muito
se não fui o que você esperava;
se falhei em ser o que você precisava;
se não atendi suas expectativas, necessidades.
Por favor, me perdoe
se exigi que você satisfizesse minhas vontades;
se reclamei por você não me dar o que achei que eu precisava;
por me zangar por você não corresponder às minhas veleidades.
Sou grata
por me permitir aprender com você;
por prestar atenção ao que tenho a dizer;
por ser um lindo espelho de pluralidade.
Eu te amo
cada vez que me permite estender minha mão a você;
cada vez que sinto sua força, a meu lado seu poder;
enfim, por não estar só nesta herdade.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Assim como moedas


Como moedas, tenho, pelo menos, dois lados.
As moedas não são menos valiosas por terem lados diferentes. Pelo contrário: são consideradas válidas, autênticas, justamente se tiverem todas as partes. A moeda é cara e é coroa. Dessa forma, ela é a soma de suas partes. E – claro! – a coroa é tão importante quanto a cara.
Embora, no “cara ou coroa”, se prefira escolher cara, ambos os lados têm 50% de chance de ganhar. É curiosa essa preferência... É como se o lado cara fosse o legal, o bacana, o bom; e o lado coroa fosse apenas o que sobrou para o perdedor do “cara ou coroa”. Quem fica com o coroa é porque perdeu a disputa. Já começo o jogo perdendo, pensa.
Que raciocínio é esse? O que está oculto aí, no nosso subconsciente, que privilegia lados, que rotula partes, que renega aspectos?
Para formar o todo, em sua magnífica complexidade, é necessária a soma de todas as partes; todas igualmente importantes e valiosas. O julgamento de valor é empobrecedor e injusto, desmerecendo e diminuindo a nobreza de todos os lados, pois todos têm uma função, ou não existiriam.
Então, sou frente, mas também sou verso; sou claro, mas também sou escuro; sou esquerda, mas também sou direita; sou dentro, mas também sou fora; sou o que está na luz e pode ser visto, mas também sou sombra, o escondido.
Os lados são vários, muitos, diversos e todos me compõem.
Dessa forma, meu avesso também sou eu, e posso ter dificuldade em enxergá-lo, pois é meu lado sombra, meu lado esquerdo, meu lado escuro.
E, nessa nomenclatura, não vai nenhum conceito de certo e errado, bom e mau; sendo, apenas, uma oposição ao lado luz, direito e claro: aquele lado que consigo enxergar.
Pois bem, meu próximo é um reflexo de mim. Por esse motivo, entendo que, se algo me incomoda nesse meu semelhante, isso é meu avesso, é a parte de mim que sinto dificuldade em ver. O que vejo no outro e me incomoda é meu lado sombra.
Logo, se me irrita, está também em mim.
Portanto, aquele que me incomoda me cura de mim, se eu souber enxergar, reconhecer, aceitar e agradecer.
Louco isso, né? Mas penso que é assim mesmo, pois, à medida que me incomoda, mais curada vou ficando e menos incomodada também. Ou seja, mais de mim estou enxergando e tratando e curando.
Entender isso é libertador! Liberta-me, inclusive, de odiar e querer mudar o outro. Afinal, ele é meu médico, uma vez que me mostra o que precisa ser tratado em mim.
E – o que é mais legal! –, quando me curo, algo assim acontece: o outro também se cura; ou não me incomoda mais aquele aspecto dele; ou ele passa a não fazer mais parte de minha vida, pois terminou sua função.
Conclusão: à medida que me curo, as pessoas à minha volta também se curam.
Trato-me e me curo por todas as minhas relações!

Aho mitakuye oyasin!
Edna Farias,
Mestre de Reiki
(21)99614.8992 🧡 BEM TE VEJO
Ednamfarias.blogspot.com Quando a Alma Fala


sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Combater ou ser?


Você não precisa combater o mal o tempo todo; basta ser o bem.
Até porque, os conceitos de “bem” e “mal” são seus, são individuais. Pois, o que você considera mal, dependendo das circunstâncias, para o outro é perfeitamente defensável, justificável. Então, antes de sair jogando pedras, olhe para si mesmo e busque onde você pode acertar, segundo seus próprios conceitos.
Além disso, ninguém conhece o plano divino. Portanto, seja o bem, na maioria das vezes; em vez de combater o mal, o tempo todo.
Isso, naturalmente, não o impede de, humanamente, se revoltar, de vez em quando, e jogar para o alto uma mesa cheia de bugigangas que estavam sendo vendidas, nos templos, em nome do Pai.
Mas, cuidado, pois isso significa sair de seu eixo, se desequilibrar; romper, momentaneamente, a ligação com seu eu. Algo desequilibrou você; uma situação extrema que toldou, por um breve tempo, sua ligação com a divindade; algo que o fez sair da posição do meio, o que é humanamente compreensível; mas você precisa voltar ao que você é: o ser divino e essencialmente bom, posto que criado à imagem e semelhança de Deus.
Percebe? Faz sentido para você?
Embora ocorra, essa disposição para o combate não é sua essência, pois sua natureza é de estender a mão à marginalizada prostituta e de perdoar o bandido.
Então, seja a paz, em lugar de combater a guerra, pois combater também é guerrear; seja o bem, em lugar de combater o mal, pois combater é dar visibilidade, é emprestar energia, é evidenciar. Mesmo falando contra, você está falando sobre. Seja aquilo que você é, em vez de lutar contra o que você não é!
Basta ser aquilo em que acredita, em vez de condenar o que é diferente.
Por exemplo, quando se vê uma pessoa jovem ocupar o lugar de idosos em uma condução, se critica, reclama e sai falando mal. E, quando se fala mal, mais pessoas também falam mal, não é? E surgem vários exemplos de como o mundo está perdido, de como as pessoas são ruins, de quantas maldades existem... Não é mesmo?
E quando se vê uma pessoa se levantar de um lugar que nem era de idoso e ceder o assento, se elogia, comenta, propaga, divulga? Se assim o fizesse, ouviria outras tantas histórias de bondade, honestidade, bom caratismo.
Então, para qual atitude se está emprestando energia? Com a postura de revolta e combate, à qual dos dois se está servindo?
O que você emana? O que você propaga? O que você divulga? O que você energiza?
Vamos elogiar as pessoas que fazem o bem, em lugar de criticar as que fazem o mal?
Escolha ser o bem, em vez de combater o mal. Escolha ser a paz, em lugar de lutar contra a guerra. Escolha ser amor, em vez de criticar o ódio.
Acredito que basta ser aquilo que sou na essência, basta ser aquilo para o qual eu fui criada por Deus, em vez de sair levantando bandeiras e lutando e combatendo o tempo todo.
Uma jornalista conceituadíssima, espírita, defensora ferrenha dos que considerava fracos e indefesos me contou que teve a seguinte lição: estava na fila de um supermercado, e surgiu uma discreta discussão entre a funcionária do caixa e uma cliente. A jornalista enquadrou imediatamente a cliente – uma cigana – em seu conceito de vítima. Prestando atenção no conflito, percebeu que a funcionária acusava a cigana de não haver feito o pagamento total das compras, faltando uma moeda de um real, que a cigana insistia, discretamente, haver lhe dado.
A jornalista saiu imediata e escandalosamente em favor da cigana: discutiu com a caixa, chamou o gerente, falou em preconceito racial e discursou fervorosa e veementemente.
Quando todos do supermercado cederam, e ela olhou em volta em busca da cigana que tivera sua razão reconhecida e receberia um pedido de desculpas exigido aos brados pela jornalista, esta notou que a vítima sumira.
Isso foi uma dura lição, pois aquele combate todo fizera mais mal do que bem àquela senhora ao expô-la, assim como a sua raça. O combate promovido pela jornalista só fez reafirmar o preconceito atribuído àquele povo. Aquela senhora estava sendo discreta e educada e, provavelmente, o que menos queria era chamar a atenção.
A jornalista concluiu: Boas intenções combativas e bandeiras, algumas vezes, podem fazer mais mal do que bem. Normalmente, é mais ego do que bondade.
Dei razão a ela!
Escolho ser, não combater.
Prefiro criar, não criticar.