sexta-feira, 22 de março de 2019

Vejo vocês


Vejo vocês, meus ancestrais,
A me receberem sentados
Nesta casa, neste chão,
Por vocês assentados.

Peço licença para me aproximar.
Como criança desejo deitar
A cabeça neste colo milenar.

Aconchegada,
Ouço sobre a chegada
Nestas terras com quase nada.
Paragens
De longas e tristes viagens, Destinos para os quais
Não desejavam passagens

Mas foi preciso a cabeça erguer
Nada mais restava a fazer
E a origem sem esquecer
Toca de sobreviver
Para, mais tarde, poder
 – Quem sabe? –, vencer

Deste chão
Foi que se levantou
Toda uma nação
De um povo que se negou
A ser só sofredor.

Da realidade fez cantiga
Seus requebros dançando
Sem lamento nem fadiga
Camuflando cada santo

Assim foi que seu canto
Seduzindo toda pedra
Gerou esta nossa terra
Que não sabe de guerra
Preferindo a folgança
Realidade de criança
Que brinca de esperança