Você me acompanhou
desde sempre, pois não me lembro de um momento de minha vida em que você lá não
estivesse. Sem motivo sabido, sem razão aparente, sem um porque plausível.
Acompanhava-me e pronto!
Mas, para mim, não eram
“favas contadas”. Eu precisava saber, necessitava entender. E, acima de tudo,
queria achar a possibilidade de, até mesmo, viver sem você. Ansiava pela hora
do basta!
Depois de anos de
convivência, comecei um caminho de cura de você. Em vez de me revoltar com sua
presença, passei a olhar você como parte de mim, a buscar o que em mim era você.
Para essa tarefa, entendi que era preciso mergulhar em mim. Ir fundo, até onde
não havia você. E, a partir dali, vir voltando para separar os siameses.
E fui assim fazendo. E
esse fazer levou anos. E, nesses anos, me vi. Debulhei cascas, muitas vezes, dolorosas;
esvaziei compartimentos, me desfazendo do que não me cabia; iluminei cantos, diferenciando
o que era meu; refiz caminhos, ora acertando, ora voltando atrás; abracei
abraços, há muito ofertados; e descansei em colos, alguns bem inusitados.
A cada etapa da viagem,
um alumbramento! Pois, a cada janela, uma descoberta; a cada paisagem, um novo olhar;
a cada mundo, uma nova forma de viver! Vim vindo, vindo, vindo...
E cheguei aqui sem
você!
Em que momento você
surgiu? Não sei. Quando você se foi? Também não sei.
Só sei que, desfazendo-me,
compreendi meus descaminhos que fizeram você; refazendo-me, meus novos caminhos
desfizeram você. Nesta des-coberta eu, já não cabe você.
Você se foi, tristeza,
sem nem dizer adeus!
Precisava mesmo não,
tá?