sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Amanhã

Hoje acordei como os pássaros: cantando
Hoje me comportei como as flores: perfumando
Hoje saí pelo mundo como a primavera: adornando
Hoje fui feliz como as crianças: brincando
Ontem? Ontem não me lembro.
Quem sabe terei passado lendo
Ou correndo, ou, tão somente, vivendo.
Mas amanhã... Ah, amanhã, só você vendo!
Amanhã serei livre e livre como um bambuzal ao vento
Amanhã amarei e amarei como uma cortesã ao lento
Amanhã dançarei e dançarei como uma bailarina sem tento
Amanhã voarei e voarei como uma gaivota sem tempo
Ou será quem sabe,
Pois tudo é sempre possível
E a ninguém cabe
Prever o imprevisível...
um bambuzal sem tento
uma cortesão sem tempo
uma bailarina ao lento
uma gaivota ao vento
Ou, talvez, ainda,
Já que nada
Neste mundo finda...
um bambuzal ao lento
uma cortesão ao vento
uma bailarina sem tempo
uma gaivota sem tento
Ah, e isso importa?
O importante é o amanhã
E, nele, ser comporta
Que escancara e escancara e escancara a porta!

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

O que não gasta


Saber que tudo passa nem sempre basta
para se valorizar o que não gasta

Dizer amo você não gasta
é bom até pra quem se acha

Agradecer por tudo não desgasta
antes abre o coração pra receber mais graça

Entregar e confiar nada desperdiça
portas são grandes apoiadas em dobradiça

Façamos, pois, consumo do que não perde o rumo
mas sim nos dá aprumo neste mundo de resumos

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Rios de minhas vidas


O rio desta minha vida já passou de meio século. Por esse aspecto, o vejo largo, caudaloso, imponente. Tamanha vivência lhe trouxe calma, prudência, profundidade, expansividade, acolhimento. Olho para ele e posso me orgulhar do quanto cresceu e se fortaleceu, enquanto corria, lutava e conquistava espaço, sempre avançando, sempre crescendo, sempre sendo, metro a metro, o que nasceu para ser: um gigantesco rio a se espelhar e se dirigir para o mar.
Então, por que ainda me sinto um córrego, praticamente uma nascente?
Para responder a essa contradição, tomei meu eu-regato pela mão, e fomos em direção à minha fonte que – descobrimos! – é a Fonte De Tudo Que Há.
E foi aí que entendi: sou grande em relação a tudo que cresci nesta vida; mas sou pequena, nesta vida, se comparado a tudo que sou com a Fonte, a tudo que venho sendo com a Fonte.
O grande rio que sou nesta vida é pequeno se comparado à soma dos rios que já fui e serei com a Fonte.
Ah, tudo bem. Entendi. Agora estou em paz com esses dois sentimentos que pareciam contraditórios, mas que se explicam em suas reais dimensões: sou mais do que estou!

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Ser você


Se eu fosse bailarina,
dançaria somente para você.
Se eu fosse serpentina,
me enrolaria só em você.

Se eu fosse lua cheia,
iluminaria só pra te ver.
Se eu fosse maré cheia,
banharia somente você.

Porque,
se eu fosse outro ser,
eu só ia querer
ser 
você.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Oração

Pai Divino que é Mãe Divina e muito mais, gostaria de Lhe falar do quanto me sinto feliz e em paz.
Cerrando as cortinas do sentido, sinto a vida, fluído por cada célula de meu corpo; sou meu pulmão a alargar/esvaziar; minha pele a arrepiar de minha alma divino sopro; de meu coração soo o badalar.
Sou o planar do cisne em águas benditas; o canto do bem-te-vi a anunciar bem-vistas; o roçar de minha gata a me dizer: benquista.
Sou o farfalhar de folhas ao relento; a pipa na mão do vento; a fotografia nos braços do tempo; as marolas de um mar sem tento.
Alcancei a serenidade almejada, tenho uma paz em Ti enraizada; conserve-a, por favor, Pai/Mãe, em mim ancorada.

Pés

Pés que crescem nos caminhos
me trazem até aqui: espinhos,
dor, pedras vivas, desalinhos.
Pés se encantam nos caminhos:
nem sempre choraram o amor,
contaram risos, somaram carinhos.
Pés que amaram nos caminhos.
A vida encontrou um jeito,
ninguém é tão sozinho!
Pés vêm parando no caminho.
É tempo de olhar para o tempo
e viver bem devagarinho...

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

A que eu fui


Quem eu fui me visitou hoje, mas disse que não queria falar sobre nós.

Sabendo que não havia outro motivo para ela ter vindo, comecei por elogiar o quanto ela sempre foi corajosa, destemida, precursora: ser a primeira a ter curso superior, tanto pelo lado materno quanto paterno; ser a primeira a sair de casa solteira para morar sozinha; ser a primeira a ter um apartamento, um carro... é muito pioneirismo!

Então, relaxando, ela disse: “É preciso ser muito corajosa mesmo para enfrentar tudo pelo que passei.”

Mas, já com voz embargada, falou: “Pena que nem tudo deu certo.”

Abraçando-a carinhosamente e trazendo-a bem para junto de meu coração, falei baixinho que ela fez o melhor possível; era o que dava para ser feito, na época, com o que ela sabia.

E falei, ainda, “Graças ao que você foi, graças ao que você conseguiu, devido ao que você plantou, eu sou o que sou! Aceite, por favor, minha gratidão e minha reverência!”

E assim, apaziguada, ela ocupou seu lugar de honra em meu passado, tornando meu presente muito mais leve e meu futuro muito mais brilhante.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

UM

E se experimentássemos um olhar novo...
- sobre nós mesmos? Sem julgamentos, arrependimentos ou cobranças. Um ver-se com bondade, compreendendo que tudo o que fizemos foi o que era possível no momento. Reconhecendo e aceitando que fomos o que era possível ser. Isso é mais do que autoperdão. É descobrir que não há o que perdoar. Em mim, essa perspectiva – essa compreensão – abriu espaço para eu ser mais e melhor.
- sobre os outros? Sem críticas ou exigências. Uma visão de irm
ão que abarca o outro e traz para o coração, que é de onde todo olhar deve partir. Isso é mais do que amar. É ser UM, pois não existe OUTRO. Em mim, esse entendimento – essa percepção – torna o caminhar mais leve.

sábado, 4 de janeiro de 2020

Menina-flor


“Você é muito bonita!”, nunca ninguém disse à minha criança.

Já crescida, adulta, vivida, ouvi: Que mulher linda!

Mas a lacuna, menina, lá ficou sem sequer esperança.

Difícil agora escutar, acreditar neste lugar,

pois o olhar para a menina sempre quer voltar.

Como fazer brilhar a criança que ninguém quis conquistar?

A mulher que sou precisa regar aquela menininha-flor.

Ah, e se eu transbordar de amor? Será que alcançarei sua dor?
Vale a pena tentar, seja como for!