sexta-feira, 27 de julho de 2018

O que não gasta


Saber que tudo passa
Nem sempre basta
Para se valorizar
O que não gasta

Dizer amo você
Não gasta
É bom até
Pra quem se acha

Agradecer por tudo
Não desgasta
Antes abre o coração
Pra receber mais graça

Entregar e confiar
Nada desperdiça
Portas são grandes
Apoiadas em dobradiça

Façamos, pois, consumo
Disso que não perde o rumo
Mas sim nos dá aprumo
Neste mundo de resumos

Lua

Se a lua falar pudesse
Diria do amor que sente
Por toda e qualquer gente
Deste lugar, hoje e sempre

Querendo nos encantar
De vermelho se vestiu
Mas, acanhada, se cobriu
Com nosso manto azul-anil

Neste dia de festa
A encarnada lua
Ora coberta, ora toda nua
Vem desfilar beleza sua

Reverencie, povo meu
Esta que apareceu
Em todo seu apogeu

domingo, 22 de julho de 2018

Ele, o vento


O vento saiu a passear.
Tirou a árvore para a valsa,
Chamou o bambuzal pra dançar.
Com os pequenos, uma salsa,
Gingados, bailados de arrepiar.

O vento saiu a perambular.
Ergueu o saco na rua,
Saiu com ele a voar.
Pássaro e parceiro de diabruras,
Desciam e subiam sem parar.

O vento saiu a espraiar.
Brincou de soprar no cata-vento,
Lambeu em ondas o mar,
Vezes mais que um cento,
Um número sem contar.

O vento saiu a zoar.
Afastou cortinas da janela,
Abriu portas sem tramela,
Fez tremer a louça,
Levantou a saia da moça.

O vento saiu

Chão de flores


Vento vem e me encanta,
Ao salpicar de flores a sala
Do bouganville da varanda

Garantiu ele, assim,
Entrada na casa
Uma porta para mim

Dispenso-o de convidar,
Aceitas suas flores,
Para também um jantar

Já dentro da morada,
Pétalas fez colchão
Pra essa namorada.

sábado, 14 de julho de 2018

Lugar da alma

Se me fosse permitido ir a qualquer
Lugar do mundo,
Onde bem me aprouvesse,
Iria até mim, lá – sabe? –,
Lá no fundo,
Onde ninguém conhece,
Morada da alma,
Recanto profundo,
Onde faria uma prece.

Agradeceria por ter chegado
E, devagar, olharia ao redor.
Perscrutando cada lado,
Veria essa eu menor,
Num todo já acabado,
Maior, muito maior.

Maior do que as dores da criação,
Superior aos males da terra,
Já que é iluminação,
E toda sombra desterra.
É o sabido Divino Clarão,
Diamante que em mim encerra.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Amor


Quando o outro se vai,
Não é o amor que acaba,
Mas o que se era com ele
De que não mais precisava.

O que estamos amando
É o que vemos de nós:
Uma faceta muito melhor
Da que éramos sós.

Quando compreendemos
Que ele era só um cristal
Onde vemos nós mesmos,
Não há mais final.

O amor em nós está.
Não tem como acabar
Nem dos outros precisar
Para muito e muito amar.

Se o amor que projeto
De mim for objeto
Amarei daqui até o céu 
Sem teto