sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Esquinas

Vivo a me despir do tempo.
Outro dia, ouvi uma pessoa falar para outra a meu respeito: “Ela não é assim!” De outra feita foi: “Ela não gosta disso!” “Aquilo sim é a cara dela”.
Quando coisas assim acontecem, já não dou uma resposta direta, apenas sorrio, pensando: “Nem eu sei como sou com essa certeza toda! Quantas coisas das quais eu não gostava surpreendi-me a apreciar, de quantas outras antes admiradas passei a tolerar se inevitáveis.”
Com o desvestir do tempo, se vão eus
que não me servem mais, não me cabem mais ou não ficam mais bem nesta eu.
Ah, se soubessem o quanto mudo; páginas e páginas, cada vez mais rapidamente.
Certezas há muito ultrapassadas jazem no cemitério do que vou sendo, des-sendo e descendo em direção a mim.
Vivo a dobrar esquinas de mim desconhecidas.

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