sábado, 4 de janeiro de 2020

Olhos da´água




Dizem que tenho olhos de água. Acho que é porque choro as lágrimas que minha mãe não chorou.

Falam que minha voz é embargada. Acho que é porque guardo o pranto que minha avó não pranteou.

Linhagem de mulheres fortes, de ação. Sofrimento foi inominável, não restando tempo ou energia para gastar com lamentação.

Era preciso sobreviver e labutar. Por elas e pelos filhos, sozinhas, contra o mundo, lutar.

Sou o que elas não puderam ser: lamento e prazer.

O legado de dor represada fez em mim morada.

Tudo bem, minhas amadas. Sou forte também.

Mas de uma fortaleza que desagua!

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